tag:blogger.com,1999:blog-17518080394969673572024-03-14T06:27:42.931-03:00DesorganizoArthurhttp://www.blogger.com/profile/17555237264473553087noreply@blogger.comBlogger104125tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-84140531391923005172017-06-09T13:53:00.000-03:002017-06-09T13:53:05.914-03:00ode ao edifício xespero no recuo um ônibus<br />
que não é meu<br />
mas é<br />
a posse traz essas aflições<br />
quando menos se espera<br />
pode passar<br />
meu ônibus, nem vejo<br />
perdi<br />
imagina?<br />
e se perco a hora<br />
e se perco a reunião<br />
e se e se e sempre atrás da hora<br />
atrás de outro ônibus, passou<br />
nem vi<br />
mas o pescoço numa dessas permitiu<br />
uma leve correção 30º para o alto<br />
no glossário cinematográfico<br />
esse movimento se chama tilt<br />
quando se deslumbra em eixo vertical<br />
avisto o prédio num fundo filho da puta<br />
de belo<br />
espelho refletindo nuvem gaivota cor<br />
mas e se o ônibus passa?<br />
acabou<br />
escorreriam as horas pelo bueiro sujo do recuo<br />
e nem vi<br />
vou perder mais um<br />
mas e se?<br />
fito um pouco mais<br />
a imponência daquele concreto quase osso<br />
olho de vidro, colosso e rimas<br />
de rabo de olho, só tenho um ângulo<br />
e não possuo muito mais<br />
mas basta<br />
mas e se?<br />
olho e vem o brutamontes, todo petróleo e cadeiras<br />
me chamando pra ser chamado<br />
eu chamo<br />
jogo o dedo, olho fixo no olho do motorista<br />
ônibus no rio não se pega<br />
se conquistaArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-15267667204078755542016-06-06T15:13:00.000-03:002016-06-06T16:49:49.444-03:00Terra rossana segunda lua do mês<br />
<br />
, mulher,<br />
<br />
tire a roupa<br />
<i>and lay down on the chair</i><br />
o estofado é um quadro branco<br />
<i>canvas</i> para ser rubricado<br />
com seu ciclo telúrico<br />
almagre, matéria-<br />
prima do homem<br />
e de todas as costelas<br />
<br />
repasse o convite<br />
ao pé<br />
do ouvido<br />
da mulher<br />
ao seu lado<br />
ao seu lado<br />
ao seu lado<br />
e ao lado dela<br />
<br />
desenvergonhe<br />
convide o judeu<br />
o homem<br />
e as crianças<br />
para prestigiar seu ritual<br />
fásico, marginal aos<br />
calendários<br />
e tão íntimo dessa olaria<br />
que é o útero<br />
<br />
---<br />
<br />
Coautoria de <a href="http://42tentativas.blogspot.com.br/" target="_blank">Giordana Pacini</a> e Ingrid Gomes.Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-18825419346051383402016-05-31T00:01:00.000-03:002016-05-31T00:01:05.130-03:00Em fogo brandochorei baixinho fazendo o almoço<br />
mas não tem nada não<br />
a gente só sabe cozinhamar refogando cebolasArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-21135498281301229112016-05-19T16:33:00.000-03:002016-06-07T17:16:42.291-03:00Meu corpo lateja o teu nome em código morseembaça o campo em profundidade<br />
na retina desvairada pelos carros cortando<br />
a cem por hora talvez menos<br />
meu corpo lateja o teu nome em código morse<br />
e eu tenho um déjà vu no qual sonhava<br />
um sonho de dançarinas a se lançar<br />
pelo parapeito<br />
<br />
pousando em terra batida, as dançarinas<br />
gesticulam ritos balineses<br />
suspendendo os flocos de terra por um instante<br />
|<br />
in fi ni t_æsimal<br />
|<br />
te vejo à meia luz na plateia povoada de rostos<br />
angustiados enquanto o espetáculo não cessa<br />
e te chamo, a voz não sai<br />
<br />
já indo às tantas da noite desperto do sonho<br />
em seguida desperto do déjà vu<br />
e me deito<br />
sem você<br />
saber ao certo o tamanho das<br />
minhas pupilas no escuro da sala<br />
até onde sei, já estão maiores<br />
do que esse apartamento<br />
e ainda crescendoArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-61307480949850455952016-04-19T01:01:00.001-03:002016-04-19T02:09:38.130-03:00Retorno à casaliga a famosa música de transar<br />
e deixa as luzes estroboscópicas<br />
se derramarem sobre a decoração infantil<br />
no canto da mesa de trabalho<br />
fazendo companhia ao computador<br />
à roupa amassada, à caixa de óculos<br />
escuros perfeitos para disfarçar a ressaca<br />
de insônia depois do agito na madrugada<br />
eu só consigo pensar em como te provar<br />
eu só consigo provar<br />
mais um<br />
ponto<br />
racional sobre<br />
a questão que discutíamos um par<br />
de semanas atrás e que teima em voltar<br />
para o telão nesse grande estádio vazio que é<br />
a minha cabeça a essa hora, e eu sei<br />
eu sei, eu me odeio<br />
todo notívago é deficiente de amor próprio<br />
em termos inconscientes<br />
não sobram muitas maneiras de fugir<br />
se você possuir um par de sapatos confortáveis<br />
vá fumar um cigarro a passos curtos<br />
se possuir uma bicicleta, não se vá<br />
sem antes fornecer gelinhos para a água<br />
que habita a garrafa térmica<br />
mas se você<br />
ah, se você possuir<br />
uma carruagem possante<br />
dezesseis dezenas de cavalos fósseis sob o capô<br />
não hesite<br />
corra<br />
com a música de transar roendo as caixas de som<br />
e a janela aberta pra deixar entrar o ar rarefeito<br />
dessa atmosfera porcamente iluminada<br />
pelos postes que piscam e o eventual letreiro<br />
de birosca<br />
senta<br />
sente a adrenalina<br />
de saber que é só errar um reflexo<br />
e o aço embrulha para presente, tanto faz<br />
tanto fez que agora não sabe para onde ir<br />
retorna à casa<br />
apaga a luz<br />
acalma o batimentoArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-8793447389203329292016-03-27T21:56:00.000-03:002016-03-27T21:56:59.081-03:00Postalfoge, foge!<br />
tentam fugir escaralhados<br />
de um vermelho que nasce quadrado<br />
por puro reflexo<br />
os caretas<br />
eles acordam<br />
em um bocejo<br />
o bocejo matutino dos caretas<br />
não toma conhecimento<br />
do trem que rompe o horizonte<br />
em linha<br />
e lênin<br />
sobre a locomotiva, herói de capa e enxada<br />
desce para tirar água do joelho<br />
engatilhar seu fuzil<br />
e disparar cartas<br />
<br />
<br />
---<br />
<br />
<br />
transdução do poema sem título de Augusto Meneghin:<br />
<br />
ninguém nas manhãs<br />
irá contra<br />
o serviço postal<br />
do solArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-19135947527986262272016-02-12T14:16:00.000-02:002016-02-23T09:48:27.455-03:00A geometria nasceu em berço turcomeu corpo<br />
desconforto<br />
a pisada fora do ritmo entrelaça os pés<br />
na transposição dos riscos na calçada<br />
os braços pendem dos ombros<br />
tanto pelo descompostura aprendida nos anos<br />
quanto pelo peso do céu<br />
o descanso reside em esquecer as pequenas<br />
desproporcionalidades ao redor<br />
tanta aresta<br />
tanta brutalidade<br />
meu corpo, nem sei<br />
com quantos compassos se traça o homem<br />
quem sabe?<br />
a memória funciona em circuncírculos<br />
que avançam no plano em intervalos de<br />
centímetros, no espaço de um segundo e mais outro e mais<br />
outro, mantendo essa fina<br />
mediatriz entre o desapegar e a proa<br />
<br />
(o ortocentro encontra-se fora<br />
do triângulo, se este for obtuso)<br />
<br />
e meu corpo segue em desalinho<br />
escorregando pelas beiradas da cama<br />
reunindo essa poça disforme, de área incalculável<br />
que aspiraria ao infinito se houvesse algum humor<br />
nos ditames geométricos de minha composição<br />
mas eu sobro líquido, quase riso<br />
e volto a esquecer as pequenices<br />
quem lembra<br />
de todo o peso? todo o céu?<br />
tanta possibilidade<br />
tanto padrão<br />
as repetições quase satisfazem, as estruturas<br />
o mínimo basta para deitar<br />
o peso do céu na barriga de Geia<br />
o peso dos ombros no chão do quarto<br />
roçando o braço na barra do lençol com<br />
desenhos cartográficos<br />
e descansarArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-4351604589921102432015-11-22T03:40:00.000-02:002016-06-05T02:11:55.567-03:00O chão é lavapiso<br />
pulo<br />
olho pro sapato<br />
com o cuidado em errar<br />
every crack on the sidewalk<br />
(<i>on</i>, não <i>in</i>)<br />
toda rachadura na calçada é<br />
uma protuberância<br />
uma exotermia<br />
toda essa liberação de calor<br />
me faz lembrar que o universo não<br />
compreende o frio<br />
a rua ensina duas coisas<br />
uma é a conversar com estranhos<br />
essas nobres figuras<br />
constituídas apenas de passado<br />
a outra é a ter método<br />
caminhar é uma regência<br />
um pé em falso<br />
compasso em 7/8Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-65307293471678222812015-10-29T17:06:00.001-02:002015-10-29T17:06:14.434-02:00Das ultrapassagens em faixa contínua<div class="p1">
<span class="s1">as veias pulsam carros</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">com média de</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">1,32 passageiro</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">carregam o sangue venoso</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">repleto das impurezas do corpo</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">a urbe, um corpo</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">entidade colossal de asfalto</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">vergalhão e esse cadinho de calçada</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">a cidade agride suas células</span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">a construção civil odeia a pequena</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">escala do cidadão</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">as alimentadoras secam o gargalo</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">dos bairros avizinhados</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">tão distantes</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">tão perto de sufocar</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">o sangue arterial a plenos</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">pulmões, bombeado a contrações</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">nem tem força pra seguir</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">toda via expressa às seis</span></div>
<br />
<div class="p1">
<span class="s1">é um corredor polonês</span></div>
Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-64008525185342466282015-10-18T12:13:00.000-02:002016-06-05T02:15:24.546-03:00Dia diásístolediástole<br />
bomba bomba pela artéria o<br />
ar fresco no compasso da valsa<br />
umdois<br />
bom dia, caros ouvintes<br />
a vida segue normal, apenas<br />
levemente engarrafada na Linha Vermelha<br />
sístolediástole<br />
plaqueta ante plaqueta<br />
ninguém à volta sabe<br />
a ciranda que é se manter vivo, ninguém<br />
tem ciência do binarismo contrátil<br />
essencial para coçar atrás da orelha<br />
sístolediástole<br />
a cabeça pendula o lábio boceja a pálpebra<br />
abre os olhos e vê<br />
aquilo que eu vejo<br />
só eu vejo<br />
sístolediástole<br />
desejo desequilibrado<br />
desse jeito que só<br />
o corpo produz em um dia seu próprio peso em atp<br />
sístolediástole<br />
e no mesmo dia consome esse peso<br />
e no mesmo dia consome seu peso<br />
sístolediáspora<br />
e todas as células do meu corpo migramArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-5866193296020762192015-09-28T01:01:00.002-03:002016-02-27T12:24:05.728-03:00Esquadria quarta medidada janela em um outro planeta avisto<br />
a Terra diminuta, projetada<br />
instantes de atraso ao olhar<br />
incauto do momento presente<br />
um homem corta um nabo<br />
<br />
o fio do gume desliza por entre a<br />
carne do vegetal e secreta<br />
uma saliva<br />
a língua seca do homem<br />
explora o encontro dos lábios<br />
<br />
olho através da janela da cozinha<br />
n'outro planeta há também nabos<br />
e homens<br />
por ora incautos<br />
do presente<br />
<br />
a faca termina o corte<br />
o fim do movimento coincide<br />
com o olhar<br />
sobre a mancha escura<br />
defronte a vista<br />
<br />
um composto<br />
estéril de metais vindos<br />
da Terra<br />
corta uma vida ao meio inexato<br />
instantes antes<br />
<br />
o planeta recebe o tempo projetado<br />
no intervalo em que o homem<br />
busca o nabo<br />
com a ponta dos dedos<br />
a boca seca a língua um segundo<br />
<br />
o nabo vai à<br />
mancha negra<br />
esfrega sobre a camisa<br />
acidentada do shoyo<br />
o homem incauto<br />
<br />
um átimo para tudo<br />
dois segundos param o olhar<br />
repousa<br />
sobre os restos de jantar, peixe, arroz<br />
e vegetal<br />
<br />
só me resta a boca<br />
seca<br />
depois do shoyo<br />
vem a bonança<br />
e uma brisa lá de fora<br />
<br />
a Terra valsa no tempo<br />
em que some a mancha<br />
e eu avisto através<br />
da janela da cozinha<br />
um outro planeta<br />
<br />
<br />Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-53888385987786384542015-09-22T16:31:00.003-03:002015-09-22T16:31:45.139-03:00Manual da proporção de afetoMede-se o amor na paridade dos defeitos.Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-64299034885019608082015-09-01T22:39:00.004-03:002015-09-01T22:39:38.611-03:00Meu sexo inequívocoEu tenho tesão é no mar, Francisco.Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-34573385744241535902015-08-15T19:47:00.000-03:002016-12-04T01:19:55.118-02:00Cardigan preto sobre a rede de dormiro café frio que me serve não<br />
estraga o gosto que ficou<br />
do seu cabelo<br />
embora embrulhe um pouco o estômago<br />
no trajeto para casa<br />
eu me perco<br />
em pensamentos de futuro do pretérito<br />
o que seria de quinta<br />
sem o teu bom dia?<br />
chego em casa, tiro a roupa<br />
e me sobe o aroma de suor<br />
de novo<br />
repito os passos até aqui<br />
para lembrar se não sonhava<br />
para lembrar do seu rosto<br />
de mil cheiros e faces<br />
que não enxergo com a miopia, mas<br />
com a palma da mão que toca as curvas<br />
da bochecha rosada de calor e tesão<br />
ou vergonha tola sob o meu corpo<br />
eu desbravo cada polegada desvairada<br />
da epiderme que protege teus órgãos<br />
da pressão do mundo lá fora e<br />
desço a beijar sua flor<br />
meio arisco<br />
meio carinhoArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-4410531537374551152015-07-13T00:50:00.001-03:002015-07-27T11:28:14.708-03:00Casco sem atrito sobre o asfaltoEstou tomado de uma potência que me faz querer cavalgar o carro pela madrugada sem um rumo que baste. Quero arregimentar ombro a ombro meus infantes contra o moinho - sou o campeão das justas travadas na tundra urbana. Com a lança atravessada nas pás ou no peito do dragão dos ventos, eu cochilo e sonho e acordo entre acordes de Milton. Bastam-me alguns acordes! Quero rebentar as cordas contra a solitude do silêncio, que alegria é fazer melodia e dissonar.<br />
<br />
Destilar a felicidade é uma alquimia distante tal qual o ouro curado do plumbum metallicum feio e maleável usado pelo homem para tantos fins que nem o ouro seria capaz de suprir. Por que então vale mais o ouro? A felicidade é essa áurea utopia: de nada vale, senão para iluminar a trilha dos reis magos. Sigo montado no dorso do carro através do breu piscado dos postes, degustando o vento no rosto.<br />
<br />
Dominar a liberdade é um masoquismo sensual e inútil que chicoteia o próprio lombo para estimular o ritmo. De que adianta correr sem chegar? A liberdade é um combustível: da natureza não se extrai mais energia do que nela já circula, damos-lhe novos fins e isso tem de bastar. Agarro-me às rédeas dos cavalos mecânicos para me manter em movimento. Eu não posso parar.<br />
<br />
Chegar ao fim foi, entretanto, ou será inadiável.Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-87719570067961627692015-07-01T23:29:00.001-03:002015-07-01T23:29:35.094-03:00Bula em tercetostoda vez que for sair de casa<br />
abra a porta como se<br />
rasgasse uma placenta<br />
<br />
se abrir uma janela<br />
pule por ela<br />
com os olhos<br />
<br />
tanto quanto for possível<br />
ande a pé<br />
e tome a rua erradaArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-74520190492690398052015-06-29T01:50:00.003-03:002015-06-29T01:50:42.791-03:00Ebulindoo pobre<br />
coitadinho, não percebe a morte e a vida<br />
na tevê pendurada na cozinha<br />
ligada no espetáculo policial enquanto<br />
a empregada faz feijão preto na pressãoArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-50879089268184784972015-06-29T01:44:00.000-03:002015-06-29T01:44:35.482-03:00O penhasco na beira da rejeiçãoum quasímodo no beiral<br />
que canta e bebe o vinho<br />
pulando agarrado na corda do sino que dobra às duas, às três<br />
e cai<br />
despenca para a morte como acontece<br />
em todas as mortes da disney<br />
e não se entende por quê poupar crianças<br />
da violência que é a morte para quem<br />
fica<br />
parado<br />
no beiral<br />
tua boca, as igrejas<br />
elas tem uma torre<br />
e uma torre apenas<br />
e se vê as colinas ao largo do horizonte<br />
com o sol de inverno<br />
se vê mesmo as placas azuis<br />
com nomezinhos portentosos<br />
ditando as ruas<br />
e já não sei o que é paixão e<br />
o que é<br />
recusa, não sei se avanço<br />
ou peço perdão<br />
nos beirais,<br />
um vacilo e a quedaArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-43672608783220731982015-06-19T15:22:00.000-03:002015-06-19T15:22:11.545-03:00Por poder<div>
o homem explora</div>
<div>
o homem</div>
<div>
explora o mundo</div>
Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-42290752821294178332015-05-28T11:43:00.002-03:002015-05-28T11:43:58.606-03:00As intempéries do gozoa cada lufada, o vento me rasga um corte<br />
na pele e se abrem poros<br />
que vazam tempo<br />
pedalo<br />
meu corpo demanda menos para sustentar<br />
eu tenho tempo<br />
tempo<br />
e produzo na mesma<br />
medida em que ele escorre<br />
em proporções irregulares e justas pelos cortes<br />
sinto os músculos trabalhando em<br />
cada pedalada e o asfalto não<br />
oferece atrito na bike velha<br />
as rodas famintas sorvem o asfalto<br />
e as pessoas passam<br />
tempo asfalto crianças<br />
e a matilha de vira-latas tão dona<br />
da ciclovia quanto eu<br />
<br />
felicidade dói<br />
mas a dor sai<br />
barata<br />
no escambo com a sorteArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-53273107437504888982015-03-11T03:47:00.003-03:002015-03-11T03:47:50.201-03:00Azulbem aventurado, aquele que acorda defronte a ti depois da noite meio dormida há o calor, decerto há um calor por entre e ao redor dos corpos que causa radiação no quarto e irá durar as horas do dia, mas há por cima o azul do sol peneirado pela cortina mal fechada na pressa anterior ao sexo a cortina tem essa fresta vertical recente, mas não se pode ignorar a grande faixa de horizonte aparente descolada do chão, consequência de um pequeno erro de cálculo na hora de furar as buchas na parede e suspender a armação o lençol, as roupas por todos os lados possíveis, os celulares e carteiras e relógios cartesianamente dispostos sobre o único móvel do quarto quase vazio representando uma nesga da nossa personalidade metódica todo esse quadro se repete quando acordo, com sorte olho para o lustre e me ofusco apenas para fechar as pálpebras e enxergar uma mancha que sempre está lá essa mancha é azul e em absoluto não tem cor azul é a cor da tua saia num mafuá de tecido ao pé do colchão; você, por hábito, tão bem vestida, quase me faz desistir de desenlaçar os panos que te cobrem, por não querer desalinhar a figura não sei desenhar linhas retas, afinal meus círculos, quando muito, são elipses - entretanto o azul se recusa a ficar torto se tentasse te desenhar, pintaria fora das linhas com o giz de ponta grossa e o pó do rabisco iria ao chão se juntar aos sapatos esse pó não será varrido nesta manhã quente, mas o azul<br />
<br />
<br />
dos teus olhos me restam a mancha que sempre está lá e em absoluto não tem corArthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-50136886868113800652015-03-06T13:37:00.001-03:002015-03-06T13:37:38.539-03:00Uma mulher come uma maçã<div class="p1">
<span class="s1">Parte 1</span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">a boca sorri e é até bonita ela me cheira eu só a conheço o resto não faço ideia do que seja eu só a conheço pode-se dizer que estou apaixonada vermelha como eu como um espelho eu como o sol para ficar forte e crescer quem sabe me tornar adulta ter filhos não quero morrer por que pensei nisto? a boca me sorri e eu levito ela me dá banho com massagem firme sobre minha pele vermelha ah eu fico tão envergonhada não quero que ninguém veja o meu sexo minha pele agora tá frio e eu perdi o sol que repousava sobre a minha cama minhas irmãs continuam deitadas elas são mais novas eu queria vê-las ficar forte e crescer quem sabe se tornar adultas não quero morrer não tá mais frio estou enrolada em papel toalha será que volto a ver o sol? já sinto fome cadê a boca? não quero morrer ah o sol a boca sorri e fala sem dúvida ela é linda está mais vermelha que antes quase brilhando nesse sol estou completamente apaixonada a boca fala fala para de falar e eu levito argh por que fez isso eu te amava tanto podíamos ser argh pare por favor argh eu nunca te ahh</span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Parte 2</span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">cesta: hey</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">mulher: bom dia</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">maçãs: bom dia</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">mulher: quero você</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">maçã: eu não entendo nada do que você fala mas o que eu mais quero neste mundo é estar com você para sempre o que é você?</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">mulher: só uma melhor te lavar</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">maçã: você cuida tão bem de mim eu sou saudável demais está vendo acho que vou sentir saudade da minha família quando eu partir com você seja lá o que você for</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">mulher: tchau</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">cesta: tchau</span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Parte 3</span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><i>A natureza persegue mesmo um ciclo incessante de equilíbrio através do embaralhamento das moléculas que compõem seu sistema hermético incapaz de perder apenas responsável por criar. E como é possível criar tanto, tanto, sem nunca perder? É uma grande esfera de raios não equidistantes não propriamente uma esfera, por assim dizer, cuja matemática os homens tentam adestrar e o zero continua um mistério.</i></span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"><i></i></span><br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><i>Quais são as propriedades do zero?</i></span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"></span><br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Uma mulher come uma maçã.</span></div>
<div class="p2">
<span class="s1"><i></i></span><br /></div>
<br />
<div class="p1">
<span class="s1"><i>O zero é mais indivisível que o átomo.</i></span></div>
Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-62711747484043417152015-01-19T02:21:00.004-02:002015-01-19T02:21:52.903-02:00Te inalar como éter me torna o contraste de um negro vício<div>
me pego mesmo de vez em quando</div>
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pensando</div>
<div>
se nosso sítio terá um bom wifi</div>
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ou vasta grama para rolarem nuas</div>
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as nossas crianças, essas pequenas apostas</div>
<div>
elas herdarão nossa rábica teimosia?</div>
<div>
espero sincero que sim</div>
<div>
assim como a obsessão metódica com</div>
<div>
tudo aquilo que não precisa de organização</div>
<div>
e a preguiça eterna que se enterra no lençol</div>
Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-15808761765128561732015-01-19T01:15:00.001-02:002015-01-19T01:16:05.664-02:00Descendência do ferro contra as achas da madeira negrao machado sobe um lenhador corta achas da madeira negra, rústica dos fungos e das manchas de terra, a madeira negra que cerca sua casa embrenhada na floresta das terras ao sudeste da cidade ele se chama lenhador porque corta achas em um golpe seco que desmembra a fibra, golpe seco que repete, golpe seco que repete e repete as metades siamesas se dividem sob a profissão do homem que mora na casa escondida pelas árvores, tão longe da cidade seu filho sai da casa e se aproxima para observar a descendência do ferro contra as achas o filho faz o lenhador se sentir gente homem sempre que lhe dirige a palavra, mas o lenhador fala pouco<br />
<br />
O machado desce.<br />
<br />
o machado sobe o filho tem anos de menino e ainda não pode se chamar de lenhador, assim se evita a confusão com o próprio lenhador, ele mesmo o único da profissão nas léguas que cobrem daquela casa escondida até a cidade o noroeste é longe e o filho gosta de quando vão à cidade comprar charque com o escambo do carvão que fazem no fundo da casa a sujeira e as sarjetas da urbe enjoam o lenhador, que respira lento o ar puro da floresta e desinfla a força<br />
<br />
O machado desce.<br />
<br />
o machado sobe canta o tordo sem se abalar com os golpes do lenhador cem línguas ele fala, dizia o avô quando ainda ao redor, e cem assobios imitava o tordo junto ao velho um machado nunca vence o assobio, este tem a harmonia do continuar o machado toca uma nota repetida no ouvido do filho, nota repetida que lembra o avô, nota e arrisca imitar o tordo nas madeiras negras que cercam a casa, só há lenha e tordos para se orquestrar<br />
<br />
O machado desce.<br />
<br />
o machado sobe o lenhador repara no filho e lembra do avô ele se percebe pai dos passos do filho já não sabe se o filho será tordo ou lenhador, mas ele mesmo espera um dia ser avô<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
O machado descansa. O pai assobia ou chama o filho às achas de madeira.</div>
<br />
<br />Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1751808039496967357.post-71996137204938973192014-08-05T18:32:00.000-03:002014-08-05T18:32:12.575-03:00Monáea negra que<div>
me faz chorar</div>
<div>
com percussão</div>
Arthur Rivelohttp://www.blogger.com/profile/04143208216450014678noreply@blogger.com0