Carta a nós dois

Você faz falta, mesmo sem nunca ter sido minha. É engraçado perceber que você, sua presença, me implanta memórias falsas de um passado feliz. Maldita falsa nostalgia. Talvez isso seja resultado de todo o tempo gasto por mim imaginando como seria bom finalmente viver um romance, ainda mais com você.

Você. Devo lhe dar um nome? Se daqui a alguns anos eu reler esses pensamentos, já serei um outro eu, será que ainda recordarei do seu gosto? Será que acordarei e encontrarei o seu rosto? Sua imagem me traz dúvidas. Memórias e dúvidas, falsas e hipócritas. Tudo corre como em um sonho: o absurdo é latente, eu sei que estou sonhando, mas torço para que os cinco minutos que me restam de sono durem, perdurem, se perpetuem.

Estou farto de despertar, com um tapa da realidade, de minha droga onírica. Estou cansado, entretanto, de ser incapaz de sentir na pele a vida, o vento, você. Meu mundo está fadado a ser marginal. Às vezes me parece que sou etéreo, impossibilitado de tocar aquilo que é tangível aos outros. Deve ser tolice minha. Posso fazer o que quiser, sou livre! Posso te olhar, posso até te dar um nome. É tudo que eu quero. É tudo que eu posso.

Eu quero também poder transformar meu sonho em um reflexo do real. Desejo não ter mais desejos, já estou saturado deles. Quero apenas realização... Talvez esteja pedindo demais, sinto que devo ser mais justo. Agradeço, portanto, pelo maior favor que você poderia me conceder. Estou profundamente agradecido por você ter me ouvido, isso é tudo.

Atenciosamente
Arthur