O gosto do malte

Com uma cerveja doce
Encanta a minha flauta
Nietzsche, uns macacos
Um bom filme e os convivas.

Com uma cerveja salgada
Eu tempero um samba
Brincando de bamba
Em uma noite quente.

Com uma cerveja azeda
Ignoro conversa fiada
E fecho o rosto, enjoado
Do gosto de solidão.

Com uma cerveja amarga
Sento com velhos companheiros
Ombro a ombro com os parceiros
Celebro o bom do que já foi.

Os abutres

Foi quando olhei para o alto
Que notei, moribundo
A Fome descendo em espiral do céu.
Deitara por dor
Ou cansaço
Não importa.
Olhava para cima, porque então
Não mais reagia ao chão.
"Os pontos, o que serão?"

Havia naquelas tantas asas
Uma morbidez digna.
Não sabia ainda
Talvez nunca venha a saber
Uma resposta
Para sua vinda.
Infrutífera questão
Eu perguntava em vão.
"Quando esses carniceiros virão?"

A Natureza descia em mim
E o punhado de terra
Que insistia em sustentar meu parco corpo
É quem mostrou
Quanta frieza
E quanta beleza
Eu teria em me deixar.
Espreguicei-me no conforto da areia,
O roto começou a puir.
Não me importa quem serão...
Ignoro saber quando virão...
"Venham agora, e me abracem como a um irmão!"