da janela em um outro planeta avisto
a Terra diminuta, projetada
instantes de atraso ao olhar
incauto do momento presente
um homem corta um nabo
o fio do gume desliza por entre a
carne do vegetal e secreta
uma saliva
a língua seca do homem
explora o encontro dos lábios
olho através da janela da cozinha
n'outro planeta há também nabos
e homens
por ora incautos
do presente
a faca termina o corte
o fim do movimento coincide
com o olhar
sobre a mancha escura
defronte a vista
um composto
estéril de metais vindos
da Terra
corta uma vida ao meio inexato
instantes antes
o planeta recebe o tempo projetado
no intervalo em que o homem
busca o nabo
com a ponta dos dedos
a boca seca a língua um segundo
o nabo vai à
mancha negra
esfrega sobre a camisa
acidentada do shoyo
o homem incauto
um átimo para tudo
dois segundos param o olhar
repousa
sobre os restos de jantar, peixe, arroz
e vegetal
só me resta a boca
seca
depois do shoyo
vem a bonança
e uma brisa lá de fora
a Terra valsa no tempo
em que some a mancha
e eu avisto através
da janela da cozinha
um outro planeta