Das ultrapassagens em faixa contínua

as veias pulsam carros
com média de
1,32 passageiro
carregam o sangue venoso
repleto das impurezas do corpo
a urbe, um corpo
entidade colossal de asfalto
vergalhão e esse cadinho de calçada
a cidade agride suas células

a construção civil odeia a pequena
escala do cidadão
as alimentadoras secam o gargalo
dos bairros avizinhados
tão distantes
tão perto de sufocar
o sangue arterial a plenos
pulmões, bombeado a contrações
nem tem força pra seguir
toda via expressa às seis

é um corredor polonês

Dia diá

sístolediástole
bomba bomba pela artéria o
ar fresco no compasso da valsa
umdois
bom dia, caros ouvintes
a vida segue normal, apenas
levemente engarrafada na Linha Vermelha
sístolediástole
plaqueta ante plaqueta
ninguém à volta sabe
a ciranda que é se manter vivo, ninguém
tem ciência do binarismo contrátil
essencial para coçar atrás da orelha
sístolediástole
a cabeça pendula o lábio boceja a pálpebra
abre os olhos e vê
aquilo que eu vejo
só eu vejo
sístolediástole
desejo desequilibrado
desse jeito que só
o corpo produz em um dia seu próprio peso em atp
sístolediástole
e no mesmo dia consome esse peso
e no mesmo dia consome seu peso
sístolediáspora
e todas as células do meu corpo migram