Rasga-valsa

Um pé enorme
Desenhado a caneta de poeta
Esmaga carro a carro a cidade

Vinte e sete anos depois
A cidade sorri bicicletas
Ninguém lembra o salvador

Foi
Valsa de poeta
Que rasga asfalto

Ponteiro avesso

Meu relógio tem
Três ponteiros
O açúcar
O sol
E a paciência.

A dieta de tempo
É certeira
É pontual
Mas se me atrasam
Não cruza comigo.

Meu relógio se arrasta
Ao avesso.

Apesar do marasmo

por enquanto, e só
por enquanto
vou esperar

Bituco

cigarro não
é tudo
ou mais

Há vagos

o tempo é um hotel
cada segundo
cada quarto

Ópios

Acende
Puxa
Prende
Passa

Inicia
Digita
Envia
Passa

Ajoelha
Confessa
Ameniza
Passa

Elege
Arrepende
Esquece
Passa

Senta
Analiza
Paga
Passa

Fuma
Bebe
Dorme
Passa

Paga
Transa
Goza
Passa

Torce
Ganha
Perde
Passa

Jornal
Pecê
Tevê
Desgraça

Pílula
Família
Álcool
Ressaca

Talvez um dia acordes;
Resgata a sobra da juventude,
Prepara uma corda apertada
E pendura a tua angústia.