meu corpo
desconforto
a pisada fora do ritmo entrelaça os pés
na transposição dos riscos na calçada
os braços pendem dos ombros
tanto pelo descompostura aprendida nos anos
quanto pelo peso do céu
o descanso reside em esquecer as pequenas
desproporcionalidades ao redor
tanta aresta
tanta brutalidade
meu corpo, nem sei
com quantos compassos se traça o homem
quem sabe?
a memória funciona em circuncírculos
que avançam no plano em intervalos de
centímetros, no espaço de um segundo e mais outro e mais
outro, mantendo essa fina
mediatriz entre o desapegar e a proa
(o ortocentro encontra-se fora
do triângulo, se este for obtuso)
e meu corpo segue em desalinho
escorregando pelas beiradas da cama
reunindo essa poça disforme, de área incalculável
que aspiraria ao infinito se houvesse algum humor
nos ditames geométricos de minha composição
mas eu sobro líquido, quase riso
e volto a esquecer as pequenices
quem lembra
de todo o peso? todo o céu?
tanta possibilidade
tanto padrão
as repetições quase satisfazem, as estruturas
o mínimo basta para deitar
o peso do céu na barriga de Geia
o peso dos ombros no chão do quarto
roçando o braço na barra do lençol com
desenhos cartográficos
e descansar
O chão é lava
piso
pulo
olho pro sapato
com o cuidado em errar
every crack on the sidewalk
(on, não in)
toda rachadura na calçada é
uma protuberância
uma exotermia
toda essa liberação de calor
me faz lembrar que o universo não
compreende o frio
a rua ensina duas coisas
uma é a conversar com estranhos
essas nobres figuras
constituídas apenas de passado
a outra é a ter método
caminhar é uma regência
um pé em falso
compasso em 7/8
pulo
olho pro sapato
com o cuidado em errar
every crack on the sidewalk
(on, não in)
toda rachadura na calçada é
uma protuberância
uma exotermia
toda essa liberação de calor
me faz lembrar que o universo não
compreende o frio
a rua ensina duas coisas
uma é a conversar com estranhos
essas nobres figuras
constituídas apenas de passado
a outra é a ter método
caminhar é uma regência
um pé em falso
compasso em 7/8
Das ultrapassagens em faixa contínua
as veias pulsam carros
com média de
1,32 passageiro
carregam o sangue venoso
repleto das impurezas do corpo
a urbe, um corpo
entidade colossal de asfalto
vergalhão e esse cadinho de calçada
a cidade agride suas células
a construção civil odeia a pequena
escala do cidadão
as alimentadoras secam o gargalo
dos bairros avizinhados
tão distantes
tão perto de sufocar
o sangue arterial a plenos
pulmões, bombeado a contrações
nem tem força pra seguir
toda via expressa às seis
é um corredor polonês
Dia diá
sístolediástole
bomba bomba pela artéria o
ar fresco no compasso da valsa
umdois
bom dia, caros ouvintes
a vida segue normal, apenas
levemente engarrafada na Linha Vermelha
sístolediástole
plaqueta ante plaqueta
ninguém à volta sabe
a ciranda que é se manter vivo, ninguém
tem ciência do binarismo contrátil
essencial para coçar atrás da orelha
sístolediástole
a cabeça pendula o lábio boceja a pálpebra
abre os olhos e vê
aquilo que eu vejo
só eu vejo
sístolediástole
desejo desequilibrado
desse jeito que só
o corpo produz em um dia seu próprio peso em atp
sístolediástole
e no mesmo dia consome esse peso
e no mesmo dia consome seu peso
sístolediáspora
e todas as células do meu corpo migram
bomba bomba pela artéria o
ar fresco no compasso da valsa
umdois
bom dia, caros ouvintes
a vida segue normal, apenas
levemente engarrafada na Linha Vermelha
sístolediástole
plaqueta ante plaqueta
ninguém à volta sabe
a ciranda que é se manter vivo, ninguém
tem ciência do binarismo contrátil
essencial para coçar atrás da orelha
sístolediástole
a cabeça pendula o lábio boceja a pálpebra
abre os olhos e vê
aquilo que eu vejo
só eu vejo
sístolediástole
desejo desequilibrado
desse jeito que só
o corpo produz em um dia seu próprio peso em atp
sístolediástole
e no mesmo dia consome esse peso
e no mesmo dia consome seu peso
sístolediáspora
e todas as células do meu corpo migram
Esquadria quarta medida
da janela em um outro planeta avisto
a Terra diminuta, projetada
instantes de atraso ao olhar
incauto do momento presente
um homem corta um nabo
o fio do gume desliza por entre a
carne do vegetal e secreta
uma saliva
a língua seca do homem
explora o encontro dos lábios
olho através da janela da cozinha
n'outro planeta há também nabos
e homens
por ora incautos
do presente
a faca termina o corte
o fim do movimento coincide
com o olhar
sobre a mancha escura
defronte a vista
um composto
estéril de metais vindos
da Terra
corta uma vida ao meio inexato
instantes antes
o planeta recebe o tempo projetado
no intervalo em que o homem
busca o nabo
com a ponta dos dedos
a boca seca a língua um segundo
o nabo vai à
mancha negra
esfrega sobre a camisa
acidentada do shoyo
o homem incauto
um átimo para tudo
dois segundos param o olhar
repousa
sobre os restos de jantar, peixe, arroz
e vegetal
só me resta a boca
seca
depois do shoyo
vem a bonança
e uma brisa lá de fora
a Terra valsa no tempo
em que some a mancha
e eu avisto através
da janela da cozinha
um outro planeta
a Terra diminuta, projetada
instantes de atraso ao olhar
incauto do momento presente
um homem corta um nabo
o fio do gume desliza por entre a
carne do vegetal e secreta
uma saliva
a língua seca do homem
explora o encontro dos lábios
olho através da janela da cozinha
n'outro planeta há também nabos
e homens
por ora incautos
do presente
a faca termina o corte
o fim do movimento coincide
com o olhar
sobre a mancha escura
defronte a vista
um composto
estéril de metais vindos
da Terra
corta uma vida ao meio inexato
instantes antes
o planeta recebe o tempo projetado
no intervalo em que o homem
busca o nabo
com a ponta dos dedos
a boca seca a língua um segundo
o nabo vai à
mancha negra
esfrega sobre a camisa
acidentada do shoyo
o homem incauto
um átimo para tudo
dois segundos param o olhar
repousa
sobre os restos de jantar, peixe, arroz
e vegetal
só me resta a boca
seca
depois do shoyo
vem a bonança
e uma brisa lá de fora
a Terra valsa no tempo
em que some a mancha
e eu avisto através
da janela da cozinha
um outro planeta
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