Imolação

Ela me queima! Essa que perfura
Todo meu frio, essa inverdade:
Você amou! Loucura, é loucura...
Mas a mentira inventa saudades.

Minha lembrança da temperatura
Ainda arde como aquela tarde
De um verão do passado sem cura.
Sem um começo, a cena me arde.

Essa lembrança quente nunca finda,
Nunca irá. Serei cego, ainda
Que a verdade passe com alarde.

À luz do fogo, sei ser incapaz
De qualquer dia alcançar a paz,
Por pura perda irreal que arde.

Nutrir meu pesadelo

Olhos fechando no mundo.
A sensação de perigo
Que me congela o umbigo
Teme o sono profundo.

Sinto teu peso nas costas.
Só, estou preso contigo,
Fardo obeso em abrigo
Sob o que rezo; tu gostas.

Queres que logo me deite,
Sentes a sede, as feras,
Vezes nem mesmo esperas

Para sorver em deleite,
Enquanto meu lobo fores,
As gotas dos meus temores.