o machado sobe um lenhador corta achas da madeira negra, rústica dos fungos e das manchas de terra, a madeira negra que cerca sua casa embrenhada na floresta das terras ao sudeste da cidade ele se chama lenhador porque corta achas em um golpe seco que desmembra a fibra, golpe seco que repete, golpe seco que repete e repete as metades siamesas se dividem sob a profissão do homem que mora na casa escondida pelas árvores, tão longe da cidade seu filho sai da casa e se aproxima para observar a descendência do ferro contra as achas o filho faz o lenhador se sentir gente homem sempre que lhe dirige a palavra, mas o lenhador fala pouco
O machado desce.
o machado sobe o filho tem anos de menino e ainda não pode se chamar de lenhador, assim se evita a confusão com o próprio lenhador, ele mesmo o único da profissão nas léguas que cobrem daquela casa escondida até a cidade o noroeste é longe e o filho gosta de quando vão à cidade comprar charque com o escambo do carvão que fazem no fundo da casa a sujeira e as sarjetas da urbe enjoam o lenhador, que respira lento o ar puro da floresta e desinfla a força
O machado desce.
o machado sobe canta o tordo sem se abalar com os golpes do lenhador cem línguas ele fala, dizia o avô quando ainda ao redor, e cem assobios imitava o tordo junto ao velho um machado nunca vence o assobio, este tem a harmonia do continuar o machado toca uma nota repetida no ouvido do filho, nota repetida que lembra o avô, nota e arrisca imitar o tordo nas madeiras negras que cercam a casa, só há lenha e tordos para se orquestrar
O machado desce.
o machado sobe o lenhador repara no filho e lembra do avô ele se percebe pai dos passos do filho já não sabe se o filho será tordo ou lenhador, mas ele mesmo espera um dia ser avô
O machado descansa. O pai assobia ou chama o filho às achas de madeira.