Terra rossa

na segunda lua do mês

, mulher,

tire a roupa
and lay down on the chair
o estofado é um quadro branco
canvas para ser rubricado
com seu ciclo telúrico
almagre, matéria-
prima do homem
e de todas as costelas

repasse o convite
ao pé
do ouvido
da mulher
ao seu lado
 ao seu lado
  ao seu lado
e ao lado dela

desenvergonhe
convide o judeu
o homem
e as crianças
para prestigiar seu ritual
fásico, marginal aos
calendários
e tão íntimo dessa olaria
que é o útero

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Coautoria de Giordana Pacini e Ingrid Gomes.

Em fogo brando

chorei baixinho fazendo o almoço
mas não tem nada não
a gente só sabe cozinhamar refogando cebolas

Meu corpo lateja o teu nome em código morse

embaça o campo em profundidade
na retina desvairada pelos carros cortando
a cem por hora talvez menos
meu corpo lateja o teu nome em código morse
e eu tenho um déjà vu no qual sonhava
um sonho de dançarinas a se lançar
pelo parapeito

pousando em terra batida, as dançarinas
gesticulam ritos balineses
suspendendo os flocos de terra por um instante
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in fi ni t_æsimal
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te vejo à meia luz na plateia povoada de rostos
angustiados enquanto o espetáculo não cessa
e te chamo, a voz não sai

já indo às tantas da noite desperto do sonho
em seguida desperto do déjà vu
e me deito
sem você
saber ao certo o tamanho das
minhas pupilas no escuro da sala
até onde sei, já estão maiores
do que esse apartamento
e ainda crescendo

Retorno à casa

liga a famosa música de transar
e deixa as luzes estroboscópicas
se derramarem sobre a decoração infantil
no canto da mesa de trabalho
fazendo companhia ao computador
à roupa amassada, à caixa de óculos
escuros perfeitos para disfarçar a ressaca
de insônia depois do agito na madrugada
eu só consigo pensar em como te provar
eu só consigo provar
mais um
ponto
racional sobre
a questão que discutíamos um par
de semanas atrás e que teima em voltar
para o telão nesse grande estádio vazio que é
a minha cabeça a essa hora, e eu sei
eu sei, eu me odeio
todo notívago é deficiente de amor próprio
em termos inconscientes
não sobram muitas maneiras de fugir
se você possuir um par de sapatos confortáveis
vá fumar um cigarro a passos curtos
se possuir uma bicicleta, não se vá
sem antes fornecer gelinhos para a água
que habita a garrafa térmica
mas se você
ah, se você possuir
uma carruagem possante
dezesseis dezenas de cavalos fósseis sob o capô
não hesite
corra
com a música de transar roendo as caixas de som
e a janela aberta pra deixar entrar o ar rarefeito
dessa atmosfera porcamente iluminada
pelos postes que piscam e o eventual letreiro
de birosca
senta
sente a adrenalina
de saber que é só errar um reflexo
e o aço embrulha para presente, tanto faz
tanto fez que agora não sabe para onde ir
retorna à casa
apaga a luz
acalma o batimento

Postal

foge, foge!
tentam fugir escaralhados
de um vermelho que nasce quadrado
por puro reflexo
os caretas
eles acordam
em um bocejo
o bocejo matutino dos caretas
não toma conhecimento
do trem que rompe o horizonte
em linha
e lênin
sobre a locomotiva, herói de capa e enxada
desce para tirar água do joelho
engatilhar seu fuzil
e disparar cartas


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transdução do poema sem título de Augusto Meneghin:

ninguém nas manhãs
irá contra
o serviço postal
do sol

A geometria nasceu em berço turco

meu corpo
desconforto
a pisada fora do ritmo entrelaça os pés
na transposição dos riscos na calçada
os braços pendem dos ombros
tanto pelo descompostura aprendida nos anos
quanto pelo peso do céu
o descanso reside em esquecer as pequenas
desproporcionalidades ao redor
tanta aresta
tanta brutalidade
meu corpo, nem sei
com quantos compassos se traça o homem
quem sabe?
a memória funciona em circuncírculos
que avançam no plano em intervalos de
centímetros, no espaço de um segundo e mais outro e mais
outro, mantendo essa fina
mediatriz entre o desapegar e a proa

(o ortocentro encontra-se fora
do triângulo, se este for obtuso)

e meu corpo segue em desalinho
escorregando pelas beiradas da cama
reunindo essa poça disforme, de área incalculável
que aspiraria ao infinito se houvesse algum humor
nos ditames geométricos de minha composição
mas eu sobro líquido, quase riso
e volto a esquecer as pequenices
quem lembra
de todo o peso? todo o céu?
tanta possibilidade
tanto padrão
as repetições quase satisfazem, as estruturas
o mínimo basta para deitar
o peso do céu na barriga de Geia
o peso dos ombros no chão do quarto
roçando o braço na barra do lençol com
desenhos cartográficos
e descansar