É quando acordo que sinto mais vontade de botar meu velho uniforme e brincar no pátio depois do lanche II

Te amo, você não sabe o quanto
Mas eu sei!

É tipo do tamanho
Dessa mão até
Essa outra mão
Só que tão esticadas, mas tão esticadas que
Se eu batê-las
Sairei voando

É quando acordo que sinto mais vontade de botar meu velho uniforme e brincar no pátio depois do lanche

Vamos brincar de ausência?
Conte até cem, de olhos fechados
Olhe pros lados
E não encontre ninguém

Um dia passa

Dia passa, dia vai
O negrume se refestela de almas
Usando pesadelo de talher
E tem quem reza pra lua o pai

Dia passa, dia vai
O cansaço pesa sobre os ombros
Sob os lençóis, entre as têmporas
E se perde no sono que trai

Dia passa, dia vai
As dores amplificadas pelo frio
Confunde-nos o osso por vidro
Que se estilhaça e o homem cai

Dia passa, dia vai
Com todo pesadelo, todo
Cansaço, toda dor
É na noite que a vida
Me acorda pra vida em flor
Na teimosia que é burlar,
Masoquista, um torpor
Se me submeto vítima
É para então ser senhor
Que acorda com pontada
Fisgando
E vê
Despertado
Agressão que passa
Tristeza que vai

Frutífera

Me sinto bem, apenas

Me sento além
Sinto ao extremo

E com os pés soltos na borda
Transborda o amor
E com os pés molhados na margem
Espero a marola chegar

É que esses calafrios da umidade
Faz lembrar o cheiro de cerejas
Afogadas de chuva
E de amores distraídos

Me perco nas gotas sobre esse lago

De autoria conjunta de Ingrid Gomes e Arthur Rivelo

Rasga-valsa

Um pé enorme
Desenhado a caneta de poeta
Esmaga carro a carro a cidade

Vinte e sete anos depois
A cidade sorri bicicletas
Ninguém lembra o salvador

Foi
Valsa de poeta
Que rasga asfalto

Ponteiro avesso

Meu relógio tem
Três ponteiros
O açúcar
O sol
E a paciência.

A dieta de tempo
É certeira
É pontual
Mas se me atrasam
Não cruza comigo.

Meu relógio se arrasta
Ao avesso.