A gentileza sem rótulo

Existe esse fogo queimando dentro
Que me faz

Sentar sempre ao lado das damas
                       mais belas dos recintos

Abrir portas para elas,
               dar passagem

Dar boa noite
        ou a vez

        E querer lhes fazer
        O mais lânguido sexo
        Mordendo os bicos dos seios
        Para esquecer que são damas

Sobre viver entre o mar e a cordilheira

I

Os últimos suspiros 
De alguma aldeia qualquer

De antes de concretarem do mar à cordilheira

São essas traineiras
Mais velhas que a cidade


II

Eu blindado
Por aço, vidro, borracha
Aço e plástico
Mais aço
E um volante

Eu blindado
Não contra balas
Mas contra o lado de fora
Que chove ou late
Ou mendiga

É quando acordo que sinto mais vontade de botar meu velho uniforme e brincar no pátio depois do lanche II

Te amo, você não sabe o quanto
Mas eu sei!

É tipo do tamanho
Dessa mão até
Essa outra mão
Só que tão esticadas, mas tão esticadas que
Se eu batê-las
Sairei voando

É quando acordo que sinto mais vontade de botar meu velho uniforme e brincar no pátio depois do lanche

Vamos brincar de ausência?
Conte até cem, de olhos fechados
Olhe pros lados
E não encontre ninguém

Um dia passa

Dia passa, dia vai
O negrume se refestela de almas
Usando pesadelo de talher
E tem quem reza pra lua o pai

Dia passa, dia vai
O cansaço pesa sobre os ombros
Sob os lençóis, entre as têmporas
E se perde no sono que trai

Dia passa, dia vai
As dores amplificadas pelo frio
Confunde-nos o osso por vidro
Que se estilhaça e o homem cai

Dia passa, dia vai
Com todo pesadelo, todo
Cansaço, toda dor
É na noite que a vida
Me acorda pra vida em flor
Na teimosia que é burlar,
Masoquista, um torpor
Se me submeto vítima
É para então ser senhor
Que acorda com pontada
Fisgando
E vê
Despertado
Agressão que passa
Tristeza que vai

Frutífera

Me sinto bem, apenas

Me sento além
Sinto ao extremo

E com os pés soltos na borda
Transborda o amor
E com os pés molhados na margem
Espero a marola chegar

É que esses calafrios da umidade
Faz lembrar o cheiro de cerejas
Afogadas de chuva
E de amores distraídos

Me perco nas gotas sobre esse lago

De autoria conjunta de Ingrid Gomes e Arthur Rivelo