o café frio que me serve não
estraga o gosto que ficou
do seu cabelo
embora embrulhe um pouco o estômago
no trajeto para casa
eu me perco
em pensamentos de futuro do pretérito
o que seria de quinta
sem o teu bom dia?
chego em casa, tiro a roupa
e me sobe o aroma de suor
de novo
repito os passos até aqui
para lembrar se não sonhava
para lembrar do seu rosto
de mil cheiros e faces
que não enxergo com a miopia, mas
com a palma da mão que toca as curvas
da bochecha rosada de calor e tesão
ou vergonha tola sob o meu corpo
eu desbravo cada polegada desvairada
da epiderme que protege teus órgãos
da pressão do mundo lá fora e
desço a beijar sua flor
meio arisco
meio carinho
Casco sem atrito sobre o asfalto
Estou tomado de uma potência que me faz querer cavalgar o carro pela madrugada sem um rumo que baste. Quero arregimentar ombro a ombro meus infantes contra o moinho - sou o campeão das justas travadas na tundra urbana. Com a lança atravessada nas pás ou no peito do dragão dos ventos, eu cochilo e sonho e acordo entre acordes de Milton. Bastam-me alguns acordes! Quero rebentar as cordas contra a solitude do silêncio, que alegria é fazer melodia e dissonar.
Destilar a felicidade é uma alquimia distante tal qual o ouro curado do plumbum metallicum feio e maleável usado pelo homem para tantos fins que nem o ouro seria capaz de suprir. Por que então vale mais o ouro? A felicidade é essa áurea utopia: de nada vale, senão para iluminar a trilha dos reis magos. Sigo montado no dorso do carro através do breu piscado dos postes, degustando o vento no rosto.
Dominar a liberdade é um masoquismo sensual e inútil que chicoteia o próprio lombo para estimular o ritmo. De que adianta correr sem chegar? A liberdade é um combustível: da natureza não se extrai mais energia do que nela já circula, damos-lhe novos fins e isso tem de bastar. Agarro-me às rédeas dos cavalos mecânicos para me manter em movimento. Eu não posso parar.
Chegar ao fim foi, entretanto, ou será inadiável.
Destilar a felicidade é uma alquimia distante tal qual o ouro curado do plumbum metallicum feio e maleável usado pelo homem para tantos fins que nem o ouro seria capaz de suprir. Por que então vale mais o ouro? A felicidade é essa áurea utopia: de nada vale, senão para iluminar a trilha dos reis magos. Sigo montado no dorso do carro através do breu piscado dos postes, degustando o vento no rosto.
Dominar a liberdade é um masoquismo sensual e inútil que chicoteia o próprio lombo para estimular o ritmo. De que adianta correr sem chegar? A liberdade é um combustível: da natureza não se extrai mais energia do que nela já circula, damos-lhe novos fins e isso tem de bastar. Agarro-me às rédeas dos cavalos mecânicos para me manter em movimento. Eu não posso parar.
Chegar ao fim foi, entretanto, ou será inadiável.
Bula em tercetos
toda vez que for sair de casa
abra a porta como se
rasgasse uma placenta
se abrir uma janela
pule por ela
com os olhos
tanto quanto for possível
ande a pé
e tome a rua errada
abra a porta como se
rasgasse uma placenta
se abrir uma janela
pule por ela
com os olhos
tanto quanto for possível
ande a pé
e tome a rua errada
Ebulindo
o pobre
coitadinho, não percebe a morte e a vida
na tevê pendurada na cozinha
ligada no espetáculo policial enquanto
a empregada faz feijão preto na pressão
coitadinho, não percebe a morte e a vida
na tevê pendurada na cozinha
ligada no espetáculo policial enquanto
a empregada faz feijão preto na pressão
O penhasco na beira da rejeição
um quasímodo no beiral
que canta e bebe o vinho
pulando agarrado na corda do sino que dobra às duas, às três
e cai
despenca para a morte como acontece
em todas as mortes da disney
e não se entende por quê poupar crianças
da violência que é a morte para quem
fica
parado
no beiral
tua boca, as igrejas
elas tem uma torre
e uma torre apenas
e se vê as colinas ao largo do horizonte
com o sol de inverno
se vê mesmo as placas azuis
com nomezinhos portentosos
ditando as ruas
e já não sei o que é paixão e
o que é
recusa, não sei se avanço
ou peço perdão
nos beirais,
um vacilo e a queda
que canta e bebe o vinho
pulando agarrado na corda do sino que dobra às duas, às três
e cai
despenca para a morte como acontece
em todas as mortes da disney
e não se entende por quê poupar crianças
da violência que é a morte para quem
fica
parado
no beiral
tua boca, as igrejas
elas tem uma torre
e uma torre apenas
e se vê as colinas ao largo do horizonte
com o sol de inverno
se vê mesmo as placas azuis
com nomezinhos portentosos
ditando as ruas
e já não sei o que é paixão e
o que é
recusa, não sei se avanço
ou peço perdão
nos beirais,
um vacilo e a queda
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