Estou tomado de uma potência que me faz querer cavalgar o carro pela madrugada sem um rumo que baste. Quero arregimentar ombro a ombro meus infantes contra o moinho - sou o campeão das justas travadas na tundra urbana. Com a lança atravessada nas pás ou no peito do dragão dos ventos, eu cochilo e sonho e acordo entre acordes de Milton. Bastam-me alguns acordes! Quero rebentar as cordas contra a solitude do silêncio, que alegria é fazer melodia e dissonar.
Destilar a felicidade é uma alquimia distante tal qual o ouro curado do plumbum metallicum feio e maleável usado pelo homem para tantos fins que nem o ouro seria capaz de suprir. Por que então vale mais o ouro? A felicidade é essa áurea utopia: de nada vale, senão para iluminar a trilha dos reis magos. Sigo montado no dorso do carro através do breu piscado dos postes, degustando o vento no rosto.
Dominar a liberdade é um masoquismo sensual e inútil que chicoteia o próprio lombo para estimular o ritmo. De que adianta correr sem chegar? A liberdade é um combustível: da natureza não se extrai mais energia do que nela já circula, damos-lhe novos fins e isso tem de bastar. Agarro-me às rédeas dos cavalos mecânicos para me manter em movimento. Eu não posso parar.
Chegar ao fim foi, entretanto, ou será inadiável.
Bula em tercetos
toda vez que for sair de casa
abra a porta como se
rasgasse uma placenta
se abrir uma janela
pule por ela
com os olhos
tanto quanto for possível
ande a pé
e tome a rua errada
abra a porta como se
rasgasse uma placenta
se abrir uma janela
pule por ela
com os olhos
tanto quanto for possível
ande a pé
e tome a rua errada
Ebulindo
o pobre
coitadinho, não percebe a morte e a vida
na tevê pendurada na cozinha
ligada no espetáculo policial enquanto
a empregada faz feijão preto na pressão
coitadinho, não percebe a morte e a vida
na tevê pendurada na cozinha
ligada no espetáculo policial enquanto
a empregada faz feijão preto na pressão
O penhasco na beira da rejeição
um quasímodo no beiral
que canta e bebe o vinho
pulando agarrado na corda do sino que dobra às duas, às três
e cai
despenca para a morte como acontece
em todas as mortes da disney
e não se entende por quê poupar crianças
da violência que é a morte para quem
fica
parado
no beiral
tua boca, as igrejas
elas tem uma torre
e uma torre apenas
e se vê as colinas ao largo do horizonte
com o sol de inverno
se vê mesmo as placas azuis
com nomezinhos portentosos
ditando as ruas
e já não sei o que é paixão e
o que é
recusa, não sei se avanço
ou peço perdão
nos beirais,
um vacilo e a queda
que canta e bebe o vinho
pulando agarrado na corda do sino que dobra às duas, às três
e cai
despenca para a morte como acontece
em todas as mortes da disney
e não se entende por quê poupar crianças
da violência que é a morte para quem
fica
parado
no beiral
tua boca, as igrejas
elas tem uma torre
e uma torre apenas
e se vê as colinas ao largo do horizonte
com o sol de inverno
se vê mesmo as placas azuis
com nomezinhos portentosos
ditando as ruas
e já não sei o que é paixão e
o que é
recusa, não sei se avanço
ou peço perdão
nos beirais,
um vacilo e a queda
As intempéries do gozo
a cada lufada, o vento me rasga um corte
na pele e se abrem poros
que vazam tempo
pedalo
meu corpo demanda menos para sustentar
eu tenho tempo
tempo
e produzo na mesma
medida em que ele escorre
em proporções irregulares e justas pelos cortes
sinto os músculos trabalhando em
cada pedalada e o asfalto não
oferece atrito na bike velha
as rodas famintas sorvem o asfalto
e as pessoas passam
tempo asfalto crianças
e a matilha de vira-latas tão dona
da ciclovia quanto eu
felicidade dói
mas a dor sai
barata
no escambo com a sorte
na pele e se abrem poros
que vazam tempo
pedalo
meu corpo demanda menos para sustentar
eu tenho tempo
tempo
e produzo na mesma
medida em que ele escorre
em proporções irregulares e justas pelos cortes
sinto os músculos trabalhando em
cada pedalada e o asfalto não
oferece atrito na bike velha
as rodas famintas sorvem o asfalto
e as pessoas passam
tempo asfalto crianças
e a matilha de vira-latas tão dona
da ciclovia quanto eu
felicidade dói
mas a dor sai
barata
no escambo com a sorte
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