o pobre
coitadinho, não percebe a morte e a vida
na tevê pendurada na cozinha
ligada no espetáculo policial enquanto
a empregada faz feijão preto na pressão
O penhasco na beira da rejeição
um quasímodo no beiral
que canta e bebe o vinho
pulando agarrado na corda do sino que dobra às duas, às três
e cai
despenca para a morte como acontece
em todas as mortes da disney
e não se entende por quê poupar crianças
da violência que é a morte para quem
fica
parado
no beiral
tua boca, as igrejas
elas tem uma torre
e uma torre apenas
e se vê as colinas ao largo do horizonte
com o sol de inverno
se vê mesmo as placas azuis
com nomezinhos portentosos
ditando as ruas
e já não sei o que é paixão e
o que é
recusa, não sei se avanço
ou peço perdão
nos beirais,
um vacilo e a queda
que canta e bebe o vinho
pulando agarrado na corda do sino que dobra às duas, às três
e cai
despenca para a morte como acontece
em todas as mortes da disney
e não se entende por quê poupar crianças
da violência que é a morte para quem
fica
parado
no beiral
tua boca, as igrejas
elas tem uma torre
e uma torre apenas
e se vê as colinas ao largo do horizonte
com o sol de inverno
se vê mesmo as placas azuis
com nomezinhos portentosos
ditando as ruas
e já não sei o que é paixão e
o que é
recusa, não sei se avanço
ou peço perdão
nos beirais,
um vacilo e a queda
As intempéries do gozo
a cada lufada, o vento me rasga um corte
na pele e se abrem poros
que vazam tempo
pedalo
meu corpo demanda menos para sustentar
eu tenho tempo
tempo
e produzo na mesma
medida em que ele escorre
em proporções irregulares e justas pelos cortes
sinto os músculos trabalhando em
cada pedalada e o asfalto não
oferece atrito na bike velha
as rodas famintas sorvem o asfalto
e as pessoas passam
tempo asfalto crianças
e a matilha de vira-latas tão dona
da ciclovia quanto eu
felicidade dói
mas a dor sai
barata
no escambo com a sorte
na pele e se abrem poros
que vazam tempo
pedalo
meu corpo demanda menos para sustentar
eu tenho tempo
tempo
e produzo na mesma
medida em que ele escorre
em proporções irregulares e justas pelos cortes
sinto os músculos trabalhando em
cada pedalada e o asfalto não
oferece atrito na bike velha
as rodas famintas sorvem o asfalto
e as pessoas passam
tempo asfalto crianças
e a matilha de vira-latas tão dona
da ciclovia quanto eu
felicidade dói
mas a dor sai
barata
no escambo com a sorte
Azul
bem aventurado, aquele que acorda defronte a ti depois da noite meio dormida há o calor, decerto há um calor por entre e ao redor dos corpos que causa radiação no quarto e irá durar as horas do dia, mas há por cima o azul do sol peneirado pela cortina mal fechada na pressa anterior ao sexo a cortina tem essa fresta vertical recente, mas não se pode ignorar a grande faixa de horizonte aparente descolada do chão, consequência de um pequeno erro de cálculo na hora de furar as buchas na parede e suspender a armação o lençol, as roupas por todos os lados possíveis, os celulares e carteiras e relógios cartesianamente dispostos sobre o único móvel do quarto quase vazio representando uma nesga da nossa personalidade metódica todo esse quadro se repete quando acordo, com sorte olho para o lustre e me ofusco apenas para fechar as pálpebras e enxergar uma mancha que sempre está lá essa mancha é azul e em absoluto não tem cor azul é a cor da tua saia num mafuá de tecido ao pé do colchão; você, por hábito, tão bem vestida, quase me faz desistir de desenlaçar os panos que te cobrem, por não querer desalinhar a figura não sei desenhar linhas retas, afinal meus círculos, quando muito, são elipses - entretanto o azul se recusa a ficar torto se tentasse te desenhar, pintaria fora das linhas com o giz de ponta grossa e o pó do rabisco iria ao chão se juntar aos sapatos esse pó não será varrido nesta manhã quente, mas o azul
dos teus olhos me restam a mancha que sempre está lá e em absoluto não tem cor
dos teus olhos me restam a mancha que sempre está lá e em absoluto não tem cor
Uma mulher come uma maçã
Parte 1
a boca sorri e é até bonita ela me cheira eu só a conheço o resto não faço ideia do que seja eu só a conheço pode-se dizer que estou apaixonada vermelha como eu como um espelho eu como o sol para ficar forte e crescer quem sabe me tornar adulta ter filhos não quero morrer por que pensei nisto? a boca me sorri e eu levito ela me dá banho com massagem firme sobre minha pele vermelha ah eu fico tão envergonhada não quero que ninguém veja o meu sexo minha pele agora tá frio e eu perdi o sol que repousava sobre a minha cama minhas irmãs continuam deitadas elas são mais novas eu queria vê-las ficar forte e crescer quem sabe se tornar adultas não quero morrer não tá mais frio estou enrolada em papel toalha será que volto a ver o sol? já sinto fome cadê a boca? não quero morrer ah o sol a boca sorri e fala sem dúvida ela é linda está mais vermelha que antes quase brilhando nesse sol estou completamente apaixonada a boca fala fala para de falar e eu levito argh por que fez isso eu te amava tanto podíamos ser argh pare por favor argh eu nunca te ahh
Parte 2
cesta: hey
mulher: bom dia
maçãs: bom dia
mulher: quero você
maçã: eu não entendo nada do que você fala mas o que eu mais quero neste mundo é estar com você para sempre o que é você?
mulher: só uma melhor te lavar
maçã: você cuida tão bem de mim eu sou saudável demais está vendo acho que vou sentir saudade da minha família quando eu partir com você seja lá o que você for
mulher: tchau
cesta: tchau
Parte 3
A natureza persegue mesmo um ciclo incessante de equilíbrio através do embaralhamento das moléculas que compõem seu sistema hermético incapaz de perder apenas responsável por criar. E como é possível criar tanto, tanto, sem nunca perder? É uma grande esfera de raios não equidistantes não propriamente uma esfera, por assim dizer, cuja matemática os homens tentam adestrar e o zero continua um mistério.
Quais são as propriedades do zero?
Uma mulher come uma maçã.
O zero é mais indivisível que o átomo.
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